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 Conhecimento 

Comunicação Pública

Profa. Dra. Maria José da Costa Oliveira

Professora e coordenadora do curso de Relações Públicas da Metrocamp. Autora de vários livros sobre Comunicação Pública. 

Comunicação e educação numa aliança para a cidadania

O cenário atual se revela contraditório. De um lado, temos um contexto democrático, que demanda participação e envolvimento do cidadão nas questões de interesse público. Por outro, o cidadão vem se distanciando da política e dos políticos, a ponto de questionar os poderes constituídos, motivado por inúmeros escândalos, que contribuem para que seja gerada crescente falta de confiança nas instituições que, em tese, têm a legitimidade para garantir que o interesse público tenha primazia sobre o interesse individual ou privado.

 

Diante dessa contradição, fica cada vez mais evidente que o cidadão ainda é carente de uma educação que o empodere para que se expresse, participe, reivindique e conquiste a garantia de que o interesse público seja preservado e seus direitos de cidadania sejam exercidos.

 

É nesse sentido que a educação tem um papel essencial na formação do cidadão, desde que contemple o objetivo de estimular a participação e a expressão de pontos de vista, permitindo que suas opiniões sejam consideradas, influenciem decisões ou, ao menos, sejam ouvidas pelas diversas instâncias constituídas da vida em sociedade.

 

É por isso mesmo que se torna propício analisar, entre outros aspectos, o papel que a comunicação desempenha em contextos de educação formal, a partir da instituição de espaços de participação, de diálogo, de debate e de deliberação nas escolas, já que o espaço escolar representa uma das principais instâncias da vida em sociedade, o que o torna um local onde é imprescindível educar crianças e jovens para que participem de debates e de decisões que cercam, inclusive, a própria vida escolar.

 

Todavia, ainda há grandes desafios a serem superados, já que, mesmo no espaço escolar, a educação parece seguir modelos tradicionais que pouco estimulam a participação. Claro que essa dificuldade não se restringe ao âmbito escolar e se estende para todas as instituições que integram o espaço público, que ainda têm sérias dificuldades para se tornarem verdadeiramente democráticas.

 

Porém, não se pode esquecer que a educação exerce um papel imprescindível para formar cidadãos, desde que comprometida com essa perspectiva transformadora e democrática.

 

A comunicação, por sua vez, ganha força no contexto democrático, pois a busca de fins coletivos exige a adoção de práticas de diálogo, de debate, para que se torne possível o alcance do entendimento.

 

Afinal, as decisões que dizem respeito ao bem-estar de uma coletividade devem ser o resultado de um procedimento de diálogo, de deliberação livre e razoável entre cidadãos, o que exige a adoção de um processo argumentativo estimulado em fóruns de discussão.

 

Nesse sentido, as escolas podem cumprir um papel público importante, ao educarem seus alunos para que participem de fóruns que elas também promovam, envolvendo questões de interesse público. Esse papel tem sido desenvolvido por algumas escolas, mas ainda não se tornou prática corrente.

 

Fora isso, considerando a defesa de que democracia não se restringe ao âmbito político, esta deve permear a sociedade como um todo, envolvendo todos os setores sociais. Assim, ao incentivar a criação de espaços de discussão dentro das escolas, a educação passa a ser coerente com a política democrática.

 

Dessa forma, é interessante observar se, num espaço público como a escola, tem sido estimulada a participação, o diálogo, o debate e a deliberação, como aprendizagem para o exercício da cidadania. É preciso reconhecer que há obstáculos históricos e culturais que precisam ser transpostos para que a escola se torne um espaço de aprendizagem para o cidadão.

 

É possível constatar que a educação passou por alterações que levaram à quebra de paradigmas, em função de um cenário social que exigia abertura para a ação conjunta entre diferentes setores sociais, comprometidos com o desenvolvimento e a auto-sustentação das futuras gerações.

 

A escola, com espaços de interlocução, de participação e de deliberação, estimula a interface entre educação e comunicação, já que essa interligação faz com que, na sua formação, o cidadão desenvolva habilidade e competência para se utilizar dos instrumentais da comunicação a fim de interferir nas questões de interesse público.

 

No âmbito da educação, seja ela formal ou informal, as ações educativas combinam elementos de reprodução da cultura de seus agentes, bem como de transformação. Da mesma forma, ações de comunicação constituem-se recursos indispensáveis ao envolvimento da sociedade para o estabelecimento de potenciais de transformação, presentes e futuros. Afinal, a comunicação não é representada só por meios, e a educação só por métodos e técnicas.

 

Independentemente do tipo e da abrangência das ações integradas entre comunicação e educação a serem empreendidas, deve-se ter em mente que a apreensão dos conhecimentos envolve, além da capacidade intelectual, os sentidos, os desejos e a motivação para transformar o indivíduo em cidadão.

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