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 Conhecimento 

Comunicação Empresarial: uma visão crítica

Prof. Dr. Wilson da Costa Bueno

Professor do Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social da UMESP, editor de 8 sites temáticos em Comunicação/Jornalismo.

A importância da perspectiva crítica em Comunicação Organizacional

A Comunicação Organizacional tem ocupado, gradativamente, posição de destaque na estrutura das organizações modernas, percebida como estratégica para o processo de gestão. Essa condição, no entanto, mascara uma realidade que ainda se impõe: a falta de uma perspectiva crítica na área, ressalvados alguns casos que merecem ser saudados.

 

A realidade evidencia que, para a maioria das organizações, o discurso está descolado da prática e que, portanto, há uma falta de sintonia entre o que se fala e o que se pratica.

 

A questão não se resume em assumir que a comunicação organizacional desempenha papel fundamental no processo de gestão (na prática, não se contesta este fato) mas em ter coragem e competência para dar um passo além: torná-la efetivamente estratégica, o que implica em planejamento adequado, reconhecimento autêntico de sua importância pela alta administração e disposição para torná-la efetivamente democrática.

 

A comunicação interna mantém seu tom marcadamente autoritário e, com raras exceções, não favorece o debate, é avessa à divergência de idéias e opiniões, contribuindo para validar o processo nefasto de assédio moral, que se acentua em momentos de crise, como o que atravessamos agora. A comunicação com os stakeholders externos acentua a desconfiança, a falta de credibilidade e de transparência, denunciadas continuamente pela mídia e pelas entidades representativas da sociedade civil e pelos profissionais éticos.

 

Os compromissos com a sustentabilidade, a responsabilidade social, a diversidade, o desenvolvimento pessoal  e profissional  permanecem apenas nas falas dos gestores (inclusive, infelizmente,  também em muitos daqueles que gerenciam as áreas de comunicação nas organizações). Estamos assistindo a exemplos contundentes desta hipocrisia empresarial nos episódios que envolvem grandes corporações, como a Samarco (Vale), Petrobras, Volkswagen, e inúmeras construtoras. A tentativa de atenuar as crises, desencadeadas pela afronta à ética, à sustentabilidade, pela degradação da governança e dos direitos humanos, escancara a prevalência de um cenário sombrio (para a administração e a comunicação) que empresários e gestores insistem em negar.

 

A comunicação organizacional não vive um bom momento, mesmo porque a falta de consciência empresarial a penaliza, a constrange, com demissões imotivadas de profissionais talentosos,  pressões insuportáveis e sobrecarga de trabalho.

Estatísticas provisórias – e certamente subestimadas – indicam que, apenas em 2015, 1500 profissionais de comunicação foram demitidos das organizações, muitos dos quais dos veículos de comunicação que, cinicamente, se arvoram, embora não éticos, em julgar o caráter das organizações, repetindo a velha metáfora do “macaco que pisa no próprio rabo”.

 

Muitas entidades da área, comprometidas com gestores de grandes empresas, fingem ignorar a crise, os abusos e as injustiças, omissas como já foram em outros períodos da cena brasileira, como nos tempos da ditadura, em que fecharam os olhos aos crimes bárbaros de um sistema repressivo que, sobretudo, afrontou os valores da comunicação e os direitos humanos.

 

É preciso mobilizar a comunicação organizacional para o exercício pleno da democracia e, para isso, mais do que a formação técnica, é indispensável coragem, ética e cidadania. A sociedade e os públicos estratégicos estão atentos a ações de comunicação que objetivam limpar a imagem de organizações predadoras que assaltaram os cofres públicos, fraudaram o meio ambiente, assassinaram rios e comunidades inteiras. Elas assistem hoje,  escandalizadas como todos nós, os seus diretores frequentando o horário nobre das televisões e as manchetes de jornais, revistas, blogs e portais.

 

Precisamos de uma comunicação sem algemas, sem disfarce, sem hipocrisia. O contexto se modificou drasticamente, mas é triste perceber que a maioria das organizações e seus gestores continuam amarrados ao velho e tradicional modelo corroído pelo tempo.

 

Já passou a hora de assumirmos uma perspectiva crítica na comunicação organizacional. A própria empregabilidade dos profissionais (para muitos, a única coisa a ser preservada) e a sobrevivência digna da área dependem de uma mudança de postura. Que os bons exemplos sejam seguidos porque eles certamente indicam os novos tempos que virão. Sem coragem e visão crítica, não há futuro promissor para a comunicação organizacional brasileira.

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